O que fazer com a silagem em caso de seca ou geada?

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Por Pedro Hespanha: zootecnista

Ocorrências de seca e geadas são condições que trazem perdas e dúvidas de como proceder na ensilagem, prática destinada à conservação de forragem. Tanto a seca quanto a geada ocasionam uma quebra de ciclo no desenvolvimento da planta, seja em estágio inicial, intermediário ou do terço final. Esse estresse na planta abre oportunidade para o aparecimento de microrganismos oportunistas como fungos e leveduras e uma modificação de perfil e desafios fermentativos do material para ensilagem. Entretanto, mais prejudicial do que o estresse da planta é o estresse causado no produtor de silagem, que é pego desprevenido e é levado a tomar decisões erradas que podem impactar ainda mais as perdas.

Nessas situações adversas, a primeira e principal recomendação é não tomar nenhuma decisão por dicas ou indicações que não tenham sido provindas de um técnico qualificado na área. Decisões devem ser tomadas com base em informações do material e da propriedade em questão e nunca de forma generalizada.

A melhor ação no momento do desafio ambiental, que consideramos ser a bússola que direciona o produtor nas melhores decisões, é imediatamente providenciar uma análise do teor de matéria seca (MS). Somente com base nos resultados desta técnica é possível diagnosticar os desafios e partir para o melhor plano de contenção de perdas.

Por exemplo, no caso de uma geada que ocorra em um momento no qual a planta ainda esteja muito nova, o teor de matéria seca será baixo, o que poderá levar muita água para o silo caso seja ensilada.

Matéria seca muito baixa

Numa condição de matéria seca muito baixa, o excesso de água será o problema e uma ação aplicável seria apenas esperar mais tempo, acompanhar e deixar a lavoura ganhar mais matéria seca (5 a 10 dias extras antes do corte podem ser suficientes). Não se deve considerar ensilar um material com teor de matéria seca inferior a 25%, sendo o ideal mirar entre 28% e 33%. A condição de menor teor de matéria seca exige uma queda de pH rápido para uma fermentação desejável, o que evita a ocorrência de fermentação butírica, a qual prejudicará o consumo da silagem por parte dos animais.

Para esse cenário, recomenda-se o uso de inoculantes formulados com bactérias homofermentativas, ou seja, inoculante que possua quatro bactérias e quatro enzimas que, em conjunto, potencializam a fermentação, trabalham como um time olímpico de revezamento, com cada bactéria atuando em faixas de pH e momentos diferentes. As enzimas auxiliam no aumento da digestibilidade da fibra e liberam açúcares, originalmente indisponíveis no material.

Matéria seca muito alta

Já quando o problema for um incidente ambiental como a geada em uma lavoura com estágio mais avançado de desenvolvimento ou até mesmo se a seca aparecer e elevar o teor de matéria seca além do que era planejado, a estratégia de contenção de perdas será diferente.

Com um cenário de matéria seca muito alta, o maior desafio de fermentação em um contexto de menos água ou sendo mais específico, materiais com matéria seca superior a 33%, é, sem dúvida, a formação de fungos e leveduras. Plantas com teores de matéria seca mais altos têm características distintas e deve ser considerado o uso de inoculantes à base de L. buchneri. O alto teor de carboidratos solúveis (açúcares) e o alto teor de MS em materiais nesta condição podem resultar em um risco considerável de menor estabilidade após a abertura, o que se traduz, usualmente, em aquecimento da massa, que ocorre devido ao ingresso de oxigênio. Isso acontece porque os açúcares solúveis são usados como substrato por fungos e leveduras e levam à deterioração aeróbia. Graças à capacidade de produzir ácido acético, o L. buchneri tem reconhecida ação de controlar fungos e leveduras ao produzir esse ácido.

A recomendação de inoculantes nesta situação serão cepas heterofermentativas puras de Lactobacillus buchneri, ou uma formulação heterofermentativa mista.

Como saber então qual inoculante utilizar?

O primeiro ponto a se considerar em inoculantes é que a formulação precisa fazer sentido do ponto de vista de fermentação e queda de pH. Em avaliação da maior entidade de segurança alimentar Europeia (EFSA, 2013), nenhum inoculante que possua menos do que 100.000 UFC/g de inoculação final foi capaz de entregar a proteção e fermentação esperada desta tecnologia. Portanto, é preciso ter atenção quanto a formulações que possuem muitas cepas, porém em sua descrição não são específicas em informar a concentração de Unidades Formadoras de Colônia (UFC).

Outro ponto de atenção é o fator é o preço. Como já dizia o ditado popular, “quando a esmola é muita, todo santo desconfia”. Assim, desconfie de produtos apresentados como muito completos a preços muito abaixo da média do mercado.

Um aspecto que não pode ser ignorado refere-se a condições de armazenamento e prazo de validade. Isso porque inoculantes são “bactérias vivas” e têm vida útil. Dessa forma, não adquira produtos vencidos, principalmente se não tiver a data confirmada da colheita definida, pois você poderá inocular grande parte do produto morto. Não armazene este produto em local que passa por temperaturas muito elevadas ou em contato direto com o sol. Após aberto é recomendada a sua utilização completa.

Durante a aplicação, em muitos casos, a inoculação não é homogênea, pois, após a diluição, há formação de corpo de fundo no tanque da automotriz. Isso ocasiona uma inoculação ineficiente em que parte do material recebe pouco produto e outra parte, muito. Com esses cuidados, manejo estratégico e orientação correta, a chegada de eventos inesperados como geada e seca não será tão traumática e não trará tantos impactos na produção da silagem.

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