Por que o agro demanda habilidades em sustentabilidade?

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Artigo: Por Roberto Araújo, Engenheiro agrônomo, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), mestre em Agronegócios e pós-graduado em Engenharia de Irrigação e Proteção de Plantas

As habilidades em sustentabilidade, conhecidas como green skills, estão em alta no agronegócio brasileiro em função de tendências globais que movimentam o mercado de trabalho e criam oportunidades de carreira. Esse movimento é impulsionado pela agenda climática, políticas ambientais, busca por competitividade e a crescente demanda de consumidores e investidores por produtos e práticas cada vez mais sustentáveis.

Os eventos da COP 29 (Baku) e da 19ª Cúpula do G20 (Rio de Janeiro), marcam mais uma etapa preparatória para o agronegócio brasileiro rumo à COP 30 (Belém, 2025). Nessa agenda internacional, o maior desafio para o agro brasileiro tem sido se consolidar como setor estratégico e que faz parte das soluções dos problemas globais agravados pelas mudanças climáticas e questões geopolíticas. Com mais da metade do território nacional coberto por vegetação nativa e como um dos grandes produtores agropecuários do mundo, o Brasil é o país com o maior potencial para atender à crescente demanda global por alimentos, fibras e energia limpa, contribuindo simultaneamente para a conservação ambiental, a segurança alimentar e a transição energética.

Tendências que estão impulsionando as habilidades em sustentabilidade no agro brasileiro

(1) Integração de práticas sustentáveis nos negócios: empresas do agro estão adotando soluções sustentáveis em resposta a políticas públicas, como o RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis (PNPB), o Combustível do Futuro, Mercado de Carbono, a Bioeconomia, Programa Nacional de Bioinsumos e o Pagamento por Serviços Ambientais, dentre outras. Estas iniciativas estão conectadas a compromissos internacionais, como a Agenda 2030 da ONU, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são os compromissos climáticos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris. Regulamentações mais rigorosas também contribuem, como a implementação do Código Florestal Brasileiro, o combate ao desmatamento e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essas políticas e outras regulamentações têm criado uma demanda crescente por profissionais com habilidade para planejar, implementar e monitorar estratégias de sustentabilidade com resultados mensuráveis.

(2) Expansão do mercado de energias renováveis: A busca por alternativas energéticas limpas e renováveis está acelerando no Brasil, com investimentos em bioenergia, como exemplo o hidrogênio verde, o etanol de segunda geração (2G), o etanol de milho, o biodiesel, o biogás, o biometano, a biomassa de resíduos agrícolas e outras tecnologias emergentes. A redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é um dos focos primordiais, impulsionando a demanda por especialistas em energias renováveis e na gestão de projetos para a descarbonização. O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta e com sua abundância de recursos naturais e expertise no agronegócio, está particularmente bem posicionado para seguir expandindo sua produção de energias renováveis, que recebe investimentos desde a década de 1970. A composição da matriz energética brasileira tem 49,1% de renováveis e 50,9% de fosseis. O agronegócio brasileiro contribui significativamente para a geração de energia limpa, especialmente por meio dos derivados da cana-de-açúcar (17,5%), da biomassa proveniente de resíduos agrícolas e florestais (8,4%) e do biodiesel (5,1%), totalizando cerca de 31% da matriz energética renovável brasileira em 2023.  

(3) Adoção de políticas ESG (Ambiental, Social e Governança): A implementação dos critérios ESG tem ganhado importância para atrair investidores e melhorar a reputação das empresas do agro no mercado global. A integração de práticas sustentáveis é um imperativo estratégico, e empresas estão em busca de profissionais que dominem práticas de governança, gestão de impacto ambiental e responsabilidade social, bem como especialistas em rastreabilidade, certificações, relatórios e auditorias de conformidade.

(4) Economia Circular e Gestão de Resíduos: O conceito de economia circular, que valoriza a reutilização e a reciclagem de materiais (como exemplo as embalagens pós-consumo), vem transformando o modo como os recursos são geridos. Essa tendência cria um aumento significativo na demanda por profissionais que possam desenvolver e gerenciar sistemas de economia circular, alinhando práticas sustentáveis aos processos produtivos e ao uso consciente de recursos.

Foto: Getty Images