As fortes chuvas acompanhadas por vezes de ventania e raios observadas em Mato Grosso trouxe um cenário desafiador para o produtor de soja e milho do estado. De acordo com dados do Centro de Monitoramento de Alertas e Desastres Naturais (Cemaden), do dia 01 de janeiro até às 9h da manhã desta quinta-feira, 23 de janeiro, já foram acumulados em Sapezal (MT), 315,8 milímetros de chuva e em Sorriso, 269,2 milímetros. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média de chuva para o mês é entre 260 a 300mm.
O resultado das fortes chuvas já estão refletindo em problemas de logística, armazenamento e no campo no atraso da colheita. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), que acompanha de perto os impactos para a safra 24/25, a situação é preocupante porque as chuvas estão impactando diretamente as operações.
“Nos últimos 15 dias, a chuva intensa tem impossibilitado as colheitas dos grãos prontos e também daqueles que já foram dessecados. Temos talhões com mais de 15 dias de dessecado, chegando a 20% de grãos avariados, outros com mais de 30% de umidade indo para o armazém, o que gera desconto de mais de 50% da carga”, relata Diego Bertuol, produtor rural em Marcelândia e diretor administrativo da Aprosoja MT.
Vale lembrar que o produtor mato-grossense enfrentou na safra anterior seca severa e perda no valor da saca. Por conta da chuva este ano, a preocupação aumenta sobre os custos dos investimentos. Os dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) confirmam o atraso na colheita. Até o momento, apenas 1,41% da área plantada foi colhida, o que representa uma queda de 11,41% em relação ao mesmo período da safra anterior. Esse atraso também compromete a janela ideal para o plantio do milho, gerando ainda mais preocupação entre os produtores.
Previsão do tempo nos próximos dias em Mato Grosso
A semana termina abafada e com pancadas de chuva em Mato Grosso. No sábado (25/01), pode chover durante à tarde no estado com risco de trovoadas. O domingo (26/01) será abafado com risco de pancadas fortes e temporais localizados pelo estado, informam os meteorologistas da Climatempo.
Alto teor de umidade e problemas no armazenamento
De acordo com o levantamento da Aprosoja-MT, em diversas regiões se observa poucos armazéns gerais recebendo carga. Há filas de caminhões com os grãos com alto teor de umidade. “Os produtores veem tudo isso com preocupação ainda mais atrelado à logística, impossibilitando que o grão chegue aos poucos armazéns que temos. Tudo isso encarece o custo por saca para o produtor”, afirmou Bertuol.
De acordo com o vice-presidente da Aprosoja MT, Luiz Pedro Bier, além das perdas na qualidade dos grãos, os produtores enfrentam dificuldades logísticas agravadas pelo período chuvoso. Estradas não pavimentadas, amplamente utilizadas para o transporte de grãos, estão em condições críticas, dificultando ainda mais o escoamento da produção.
O produtor Cleverson Bertamoni, de São José do Rio Claro, relatou que as lavouras do médio norte estão em boas condições, porém o tempo de desenvolvimento da soja, atrasou. “As lavouras estão bem carregadas, bem formadas, grãos aparecem com uma formação muito boa, porém a maioria das lavouras estão verdes ainda, não estão maturadas, mas a gente espera uma boa safra de soja, a esperança nossa é que dê uma boa produção. Se o tempo não colaborar e não der para entrar as máquinas em campo na hora certa, essa projeção não vai se confirmar”, disse.
O produtor ainda lembrou a preocupação com a safra de milho. “Estamos com atraso na colheita em relação ao ano passado, de 20 a 30 dias aqui na nossa região, encurtando consideravelmente nossa janela de milho para a segunda safra e os produtores estão preocupados, porque já adquiriram as sementes de milho, já adquiriram o fertilizante, todos os insumos para a segunda safra e agora não tem como voltar atrás, talvez vai ter que plantar fora da janela, meio arriscado, mas devido aos insumos já se encontram na propriedade, não tem como fazer a devolução. Por conta das previsões de super safra do milho, os produtores também venderam o cereal a um preço menor. Então é bem preocupante”, disse Bertamoni.
Lauri Jantsch, produtor no leste do estado conta que nas proximidades de Querência, a previsão é de que ocorra um número alto de avariados. Na média, aqui na nossa região, está em torno de 20 a 25% de avariada essa soja colhida após a chuva”, explicou.
Jantsch ainda contou que a colaboração entre os produtores vizinhos, tem sido a estratégia na região. “As estratégias que os produtores estão tomando aqui em nossa região é ter cautela na dessecação da soja e um ajudando o outro para retirar essa soja quanto mais rápido possível”, complementa.