Fonte de alimentos, nutrientes, água e diferentes formas de vida, o solo é um dos recursos naturais que mais tem sofrido com a degradação causada por uso inadequado. Problemas como erosão, perda de matéria orgânica e de biodiversidade desafiam produtores e especialistas a desenvolver técnicas sustentáveis de plantio e manejo para preservar os diferentes tipos de solo do país.
Estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) mostra que mais da metade do solo da América Latina sofre algum tipo de degradação. No mundo, o percentual de degradação é de 33%. Os prejuízos mais evidentes são a compactação da terra, que agrava os impactos de enchentes, a perda de fertilidade e a menor captação de carbono da atmosfera.
Segundo Maria de Lourdes Mendonça, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cocais) e que integrou o Painel Intergovernamental de Solos da ONU, os solos brasileiros também estão sofrendo com degradação de diferentes tipos. Não é só erosão, é salinização, poluição, perda de nutrientes, acidificação. Por exemplo, se você cultiva e não faz uma adubação orgânica mineral, só retirando, sem repor, o sistema não fica em equilíbrio. Quando produz um alimento, você retira nutrientes do solo. E o desequilíbrio criado é um tipo de degradação, explica.
A especialista pondera que a evolução da agricultura brasileira tem proporcionado o desenvolvimento de boas práticas, como cultivo em rotação de culturas, plantio direto, Integração Lavoura Pecuária e Florestas, fixação biológica de nitrogênio, entre outras. Algumas dessas práticas também ajudam a reduzir o volume de insumos e defensivos aplicados.
O Brasil tem seguido as recomendações do manual voluntário de práticas sustentáveis de manejo do solo, criado no âmbito da Aliança Global pelo Solo, segundo o especialista em ciência do solo, Jefé Leão Ribeiro, integrante da Coordenação de Conservação do Solo e Água, da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O Brasil sofre dos mesmos problemas globais. Com certeza há problemas de degradação, mas temos um diferencial, porque os sistemas produtivos fomentados pelo governo são sustentáveis. Agora, tem que ampliar o alcance das boas práticas, disse Ribeiro.
Coberto e conservado
O principal cuidado a ser adotado para preservar o solo é protegê-lo da exposição à chuva, vento e produtos que levam à perda de matéria orgânica e à redução da capacidade de cultivo. Se a gente não conservar os solos, não vamos ter a produção de alimentos de que necessitamos para a população em crescimento, comenta Maria de Lourdes.
O engenheiro agrônomo Maurício Carvalho, que também integra a Coordenação de Conservação do Solo e Água do Mapa, reforça que a cobertura do solo, seja com palha ou capim, é essencial quando se trata de conservação. É preciso manter o solo coberto para permitir a reciclagem de nutrientes, explica.
Foi com esse objetivo que, há cinco anos, a fazenda Amigos do Cerrado, situada no Núcleo Rural Casa Grande, em Ponte Alta do Gama, a cerca de 50 km do centro de Brasília, fez a opção por um sistema de plantio orgânico seguindo os princípios de uma floresta de alimentos.
O carro chefe da produção da fazenda é a fruticultura, com destaque para o limão e a mexerica. Por semana, a fazenda comercializa em média cem caixas com duas toneladas de frutas orgânicas para grandes redes de supermercado e indústrias de sucosnaturais. Junto com o limão e a mexerica são plantados mandioca, banana, eucalipto e mogno. Em alguns pontos, também foram plantadas espécies nativas do cerrado, como baru, e frutos típicos de outras regiões, como o avocado.
A fazenda usa capim para proteger as leiras (sulcos) onde são plantadas as sementes. Todo tipo de material orgânico é utilizado para reforçar a cobertura do solo, inclusive restos de poda da cidade que iriam para o lixo. A gente chega a utilizar 140 toneladas de material para cobrir a leira, explica Raul Monteiro, engenheiro agrônomo e responsável técnico da fazenda.
Equipe do Mapa visitou a fazenda um dia depois de um temporal e não havia nenhum sinal de terra arrastada pela água da chuva. Embaixo da cobertura de capim, roçado seis vezes por ano, a presença de muitas minhocas e outros animais indicam a alta fertilidade da terra.
Para imitar um ambiente florestal, foram intercaladas aos pés de limão e mexerica outras plantas de maior porte, como eucalipto e bananeiras, que dão sombra, geram insumos e reservam água. O objetivo é que o sistema seja autossustentável e que produza mais recursos do que consome.
A técnica de plantar diferentes culturas e proteger o solo permite que, mesmo no período de estiagem, o solo continue úmido e não necessite de irrigação diária com a água do poço.
Fonte: Mapa