Mudanças climáticas podem impactar oferta de alimentos

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Os eventos climáticos extremos, como alterações nas temperaturas e mudanças nos padrões de precipitação, tendem a provocar alterações nos sistemas produtivos e colocar em risco o desenvolvimento de algumas culturas podendo, inclusive, no longo prazo, alterar seu zoneamento climático. Cenários climáticos desfavoráveis podem, elevar os custos de produção, diminuir a produtividade, impactar a disponibilidade da oferta dos alimentos e provocar aumento dos seus preços. A informação faz parte do informe técnico produzido pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento.

O documento traz uma análise para o leite, frutas e hortaliças:

Leite

A produção de leite no Brasil tem sido afetada pelas mudanças climáticas de duas maneiras distintas: em algumas regiões, pela estiagem, noutras, pelo excesso de chuvas. A estiagem prolongada no Brasil tem causado impactos na produção de leite, onde a escassez de água afeta diretamente a disponibilidade e qualidade da pastagem e o bem-estar dos rebanhos, ocasionando a queda na produção do produto. Durante a estiagem, muitos produtores se veem obrigados a recorrer à suplementação, o que eleva os custos de produção. Em 2024, os preços um pouco mais controlados dos grãos em comparação a anos anteriores mitigam um pouco desse impacto ao produtor. Houve elevação dos custos de produção pela necessidade de suplementação do rebanho com o uso de tecnologias de manejo mais avançadas.

Para os pequenos e médios produtores, tal situação foi de mais difícil enfrentamento, ocasionando o abandono da atividade por parte de muitos produtores. Neste quadro, os agricultores familiares foram ainda os mais atingidos, por disporem de menos estrutura e recursos, culminando na concentração da produção em produtores de maior volume diário. Além disso, com menos chuvas, a água disponível para o consumo animal e a irrigação das pastagens diminui, afetando a saúde e a produtividade dos rebanhos. Esse cenário intensifica o estresse térmico nos animais, reduzindo ainda mais a produção de leite. A falta de infraestrutura de irrigação adequada em muitas propriedades agrava a situação.

Já nas regiões afetadas pelo excesso de chuvas, os efeitos foram mais agudos, em algumas situações levando à perda total ou parcial do rebanho durante enchentes, a elevadas perdas de solo e de fertilidade ou ainda, no mínimo, à necessidade de recomposição das pastagens.

Frutas

A irregularidade da chuva provocou estresse hídrico e prejudicou o desenvolvimento de várias frutas. No caso da banana, os preços sofreram elevação por conta de sua baixa produção, o que ocorreu devido à acentuada irregularidade das chuvas que prejudicou o desenvolvimento dos cachos. Os preços devem continuar elevados pelo menos até início de novembro, quando deverá chegar ao mercado a nova safra da banana nanica advinda do Vale do Ribeira, norte catarinense e norte mineiro, e, em dezembro, a safra da banana prata, oriunda principalmente de Minas Gerais e Bahia.

A laranja é outra fruta que poderá vir a ter problemas com o estresse hídrico. 85% da produção está concentrada no cinturão citrícola composto pelo estado de São Paulo e pelo Triângulo Mineiro, regiões bastante afetadas pela estiagem e pelas queimadas, informa o estudo da Conab.

Como o Brasil é o maior produtor do mundo de laranja e de suco e os estoques do produto estão baixos, a tendência é que a indústria continue demandando fortemente a fruta, num contexto em que a safra prevista será baixa e, provavelmente, a safra 2025/26 também. Tal situação provocará menores excedentes da fruta para o atacado e para o mercado de mesa, colaborando para que os preços se mantenham elevados por longo período.

Foto: Getty Images

Hortaliças

Ainda de acordo com o estudo técnico da Conab, as hortaliças tendem a apresentar preços declinantes nesta época. A ausência de chuvas, lavouras sem sistema de irrigação poderão ser fortemente prejudicadas. Além disso, segundo a Ceagesp, no interior paulista há comprometimento de algumas lavouras que foram atingidas pelas queimadas. Com relação à alface, colaboradores do Hortifruti/Cepea relatam perda na qualidade da hortaliça devido à queima de borda motivada pelas temperaturas elevadas, pressionando os preços recebidos pelos produtores para baixo. Neste contexto, é previsível a elevação de preços nos próximos meses, o que será impulsionado também pela chegada do verão.

Preço

De modo geral, não há previsão de aumento nos preços de produtos como milho, arroz e trigo em decorrência da estiagem. Sobre leite, carne, arroz, feijão, frango e ovos, o impacto nos preços deve ser mais duradouro durante o período de estiagem, especialmente no Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, onde as condições climáticas são mais severas. Os preços podem começar a apresentar algum alívio somente após a retomada de chuvas regulares e de melhorias na umidade do solo. Em relação a esses produtos, estima-se que os consumidores percebam esse aumento de preços provavelmente nos próximos meses, ante a intensificação da estiagem e o consequente reflexo nos preços ao consumidor final.

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