Palmeira pupunha se destaca como matéria-prima do palmito

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Entre os produtos florestais não madeireiros, a produção de palmito a partir da pupunha tem se destacado como alternativa viável para preservar espécies nativas da Mata Atlântica e como fonte de renda para pequenos e médio produtores. A pupunha é uma palmeira originária da região amazônica que permite a extração do palmito de forma sustentável e econômica.

Uma das plantações de pupunha bem-sucedidas do país está em Antonina, interior do Paraná. Com cerca de 600 mil metros quadrados de área plantada. São 200 mil pés de pupunha, que gera a produção mensal de sete toneladas de palmito e abastece o mercado de Curitiba e região.

A simplicidade do manejo e dos cuidados com a pupunha, comparada a outras culturas é muito boa. Uma das vantagens é a economia no uso de fertilizantes e defensivos, já que a planta não atrai pragas.

Segundo a Embrapa, o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de palmito do mundo. Em 2018, o país exportou mais de 291 toneladas de palmito, volume que rendeu ao país o montante de US$ 1,64 milhões, de acordo com dados da Secretaria de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura.

 

Sistema de Produção de Pupunheira para palmito- Histórico

 

Os registros apontam que o hábito de consumo de palmito a partir da Juçara existe desde o período colonial com os indígenas e populações ribeirinhas. Segundo o pesquisador da Embrapa Florestas, Álvaro Figueredo, a comercialização do palmito produzido a partir da Juçara foi intensa até meados da década de 1970, mas perdeu força como matéria-prima depois da introdução da pupunha, que leva menos tempo para produzir o palmito.

 

“A palmeira Juçara sempre foi matéria-prima para preparar aquele palmito que vem envasado no vidro. Mas, o que ocorreu com essa palmeira? Ela é unicaule, quer dizer, quando corta ela morre e há necessidade de ser feito um outro plantio. E ela só vai estar pronta para um novo corte dentro de três, quatro anos. Então, com essa exploração começou a diminuir a oferta da palmeira Juçara na Mata Atlântica”, explicou Figueredo.

 

A escassez da Juçara levou os agricultores a buscarem outras alternativas de produção de palmito. E a fonte veio de outro importante bioma brasileiro: a Amazônia. Na floresta amazônica, o açaí foi a solução encontrada para substituir a palmeira da Mata Atlântica. E ainda na década de 1980, começaram os trabalhos com a pupunha, nativa da Amazônia Peruana.

 

“A vantagem da pupunha é que ela é uma palmeira que tem um caule específico, que perfila e forma filhotes, igual a uma bananeira. Então, é possível o produtor cortar essa palmeira ao longo do ano e de vários anos. Enquanto a Juçara demora em torno de três anos pra ter um palmito disponível, a pupunha leva a partir de 15 meses de idade”, explicou o pesquisador.

 

Outra característica da pupunha destacada por Figueredo é que ela não escurece, podendo ser comercializada in natura, o que despertou o interesse de chefs de cozinha para diversificar o cardápio dos restaurantes. 

 

A Embrapa estima que o Brasil tenha em torno de 30 mil hectares de palmito plantados, sendo que 20 mil hectares são de pupunha. Há registro de grupos trabalhando com a nova palmeira em Santa Catarina, Paraná, Vale do Ribeira (SP), Goiás e Bahia, entre outros.

 

Impacto econômico

 

A pupunha também se tornou a alternativa mais viável para os produtores de palmito do baixo sul da Bahia, região de Mata Atlântica onde predomina a agricultura familiar e a produção de diferentes produtos, como cacau, banana, guaraná, borracha e dendê.

 

No território baiano, os primeiros plantios de pupunha foram implantados no início da década de 90, com apoio da Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do governo estadual da Bahia e da iniciativa privada.

 

Neste período, também começaram a ser instaladas as primeiras empresas e indústrias de palmito na região, até que em 2004, um grupo de agricultores criou a Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia (Coopalm), no município de Ibirapiuna.

 

A cooperativa fomentou o plantio da pupunha em agricultura familiar em 19 municípios do baixo sul da Bahia e pelo menos 90 comunidades rurais fornecendo sementes e dando assistência técnica, inclusive com profissionais do Equador e Costa Rica, considerados os maiores produtores de pupunha da América.

 

“A região aqui do sul da Bahia se assemelha com a Amazônia. Chove bem, as temperaturas variam de 22 a 25 graus, o clima é bastante úmido, a pluviosidade acima de 2200 milímetros por ano, solos profundos, solos arenosos, então, a pupunha encontrou aqui uma região propícia para seu desenvolvimento”, explicou Alexandre Felix Ribeiro, produtor de pupunha do município Ituberá.

 

Com produção média mensal de 500 mil hastes de palmito por mês, os agricultores da região também encontraram na pupunha a possibilidade de ter uma renda praticamente fixa, principalmente para os que produzem somente palmito e para os cooperados de assentamentos rurais que já viveram em situação de extrema pobreza.

 

“Do ponto de vista da agricultura familiar, a pupunha foi um divisor de águas, porque ela produz o ano todo, de janeiro a dezembro. Então, ela equilibra o fundo de caixa do produtor rural. Todo mês ele corta palmito, entrega pra indústria e recebe aquele dinheirinho que faz parte da produção da família”, explicou.

 

“Quando ele encontra uma cultura que garante a sobrevivência dele, ele não tem porque avançar nos recursos naturais da região. De certa forma, a produção de pupunha está preservando as outras espécies”, completou.

 

Os resíduos da pupunha são reaproveitados para produzir matéria orgânica e melhorar a qualidade do solo. Um hectare de pupunha fornece por ano quase 10 toneladas de cobertura vegetal morta que se decompõe e se transforma em adubo para a terra.

 

As plantas são cultivadas no sistema agroflorestal, que forma um adensamento grande entre cada muda, favorecendo a formação de sombra, a proteção do solo contra erosões que poderiam ser causadas pela força da chuva e o uso reduzido de agroquímicos.

 

Como o palmito é um tipo de folha que precisa de muita água para ter um crescimento normal, um dos principais desafios para os produtores é enfrentar os períodos prolongados de estiagem. Mesmo com a seca cada vez mais comum na região, a produção tem crescido e já atende mercado consumidor de outros estados do país.

 

Cerca de 80% dos palmitos produzidos na cooperativa é vendido para São Paulo e Rio de Janeiro. Eles também fornecem os para os estados do Paraná e Santa Catarina e estão fazendo alguns ensaios de exportação, inicialmente para a França. “Precisamos fortalecer e consolidar a base produtiva, porque a demanda do mercado está crescendo”, comentou Ribeiro.

 

Fonte: Mapa – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento