Em sua última atualização, a Agência Americana de Meteorologia e Oceanografia (NOAA) afirmou que há chance de até 70% do desenvolvimento de um novo fenômeno La Niña até o fim de 2021. A notícia arrepiou dos pés à cabeça muitos produtores Brasil afora. Isso porque o atraso da regularização da chuva na primavera do ano passado gerou problemas em cascata, fazendo com que quase metade da segunda safra de milho fosse instalada fora da janela ideal. O resultado foi uma baixíssima produtividade associada à estiagem e às geadas.
Figura 1 – Gráfico com a probabilidade de desenvolvimento do fenômeno La Niña (barras em azul) para os próximos trimestres. (Fonte: CPC/IRI)
De fato, o fenômeno La Niña, que é o resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial faz com que a regularização da chuva atrase no Brasil. As frentes frias avançam de forma mais costeira e nem sempre canalizam a umidade da Amazônia. Além disso, a própria chuva da Amazônia costuma despertar de forma mais tardia sob um Pacífico frio. Mas o atraso observado no ano passado não foi gerado apenas pelo La Niña. Os fenômenos La Niña e El Niño têm um marketing bem significativo, não sem razão. São os fenômenos que mais mexem com o padrão de chuva e temperatura no Brasil. Mas estamos rodeados também pelo oceano Atlântico, que influencia o clima no Brasil.
E até mesmo o oceano Índico, do outro lado do mundo, de vez em quando dá uns pitacos na chuva e temperatura em terras brasileiras. Então é importante perceber o peso de cada fenômeno ou oceano e entender quais serão as semelhanças e diferenças comparando-se a safra passada com a próxima.
No ano passado, além do resfriamento do Pacífico, observou-se grande aumento da temperatura do oceano Atlântico Norte. Tanto que a quantidade de furacões em 2020 foi recorde. Um outro efeito do aquecimento é fazer com que chova mais intensamente sobre o Hemisfério Norte (Américas do Norte e Central) que na América do Sul. Observa-se um atraso ainda maior da regularização da chuva quando o Atlântico Norte aquece.
Já neste ano, o Atlântico não está tão aquecido. Ainda existe o La Niña, que fará com que a regularização da chuva demore mais que o normal, mas não há expectativa de nada excepcional. Então, uma boa notícia para os produtores do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste é que a largada do plantio não será tão tardia como em 2020, o que pode fazer com que a segunda safra de milho também não sofra tanto como aconteceu no primeiro semestre deste ano.
Figura 2 – Gráfico com a oscilação da temperatura do oceano Atlântico nos últimos 12 meses: no ano passado o Atlântico Norte estava mais quente, atrasando a regularização da chuva no Brasil
(Fonte: UNIFEI).
No Sul, embora a chuva seja mais frequente em setembro sobre o Rio Grande do Sul e em outubro em Santa Catarina e Paraná, a partir de novembro, veremos chuvas mais espaçadas e o surgimento de veranicos e estiagens regionalizadas, que podem diminuir a produtividade de milho e soja. Isso também vale para a Argentina e Paraguai, países que correm maior risco de estiagens a partir do fim do ano.
Por outro lado, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e as Regiões Norte e Nordeste devem ter um verão e início de outono mais chuvosos. Se por um lado, a chuva frequente diminui o risco de perdas por baixa umidade do solo, a precipitação mais frequente pode atrapalhar atividades de campo, inclusive da colheita da soja e instalação da safrinha. Além disso, chuva persistente também aumenta a chance de apodrecimento de maçãs do algodão.
Figura 3 – Mapas com a previsão de probabilidade de chuva acima (verde e azul) ou abaixo (amarelo e marrom) da média nos próximos trimestres setembro-outubro-novembro e dezembro-janeiro-fevereiro.
Autor: CELSO LUIZ DE OLIVEIRA FILHO | AGROMETEOROLOGISTA
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