Artigo: A fascinante profusão de usos da soja

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O engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro fundador do Comitê Estratégico Soja Brasil e do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Décio Gazonni, escreveu uma série de 4 artigos falando sobre a abundância de destinações possíveis para a soja. Saiba detalhes do primeiro artigo abaixo:

 

A soja é largamente conhecida como alimento, tanto para alimentação humana direta como para formulação de rações para nutrir suínos, aves, bovinos e outros animais para produção de proteína animal. Mas a soja é muito mais que isso, ela entra na composição de outros produtos de uso corrente, que não alimentos.

 

A soja vem sendo utilizada como sucedânea do petróleo em uma ampla gama de produtos, em especial no conceito de química verde. A diversidade de produtos é impressionante, e não para de crescer. Borrachas, fibras, plásticos, revestimentos, solventes, biodiesel, lubrificantes, adesivos e milhares de produtos de consumo utilizam a soja como ingrediente. Os componentes da soja, incluindo óleo, proteína, subprodutos isolados de proteína de soja, cascas e celulose da casca de soja, são progressivamente incorporados em produtos industriais à medida que pesquisadores e fabricantes usam a soja para diminuir a dependência do petróleo, garantir uma fonte de abastecimento sustentável e tornar os produtos mais ecológicos.

 

Obtendo insumos da soja

 

Quando a soja é esmagada, obtém-se cerca de 20% de óleo, utilizados na obtenção de produtos que vão desde artigos de higiene pessoal até resinas alquídicas para tintas e polióis para espuma. O óleo de soja com alto teor oleico é, naturalmente, mais estável do que o óleo de soja convencional, reduzindo a necessidade de antioxidantes e outros aditivos caros. Também é modificado quimicamente para obter lubrificantes sintéticos, substituindo polialfaolefinas e ésteres sintéticos de petróleo mais baratos.

 

O óleo de soja epoxidado é usado como plastificante em cloreto de polivinila (PVC) para sacos, filme alimentício, suprimentos médicos como bolsas de sangue e tubos intra-venosos, produtos de folha de vinil, selantes, revestimentos, tintas e outras aplicações. A tecnologia de surfactantes poliméricos à base de óleo de soja oferece baixo custo, alta biodegradabilidade e potencial para alto teor de bioconteúdo renovável nos produtos finais.

 

Foto: arquivo istock

 

No Brasil, o biodiesel representa quase 20% do combustível usado nos motores de ciclo diesel, sendo cerca de 95% obtido com óleo de soja. Além de combustível, os ésteres metílicos de ácidos graxos da soja (biodiesel) podem ser usados como insumos industriais, solvente em produtos de limpeza e como co-solventes, quando misturados com outros produtos, como d-limoneno. Substitutos de amida à base de soja e misturas de surfactantes fornecem desempenho superior, como espuma rica, espuma flash e suavidade em produtos de cuidados pessoais.

 

O farelo de soja é uma mistura de, aproximadamente, 50% de proteína (aminoácidos) e 50% de carboidratos não digeríveis, de alto peso molecular. Essa fração é uma fonte de açúcares barata para fermentação e transformação em insumos industriais. Uma porcentagem crescente de proteína de soja é usada para fabricar produtos como adesivos para madeira e revestimentos de papel.

 

Para transformar a soja ou suas frações (óleo e farelo) em insumos industriais são necessários processos como epoxidação, alcoólise, transesterificação, acidulação, esterificação direta, metátese, isomerização, modificação de monômeros e polimerização. Assim são obtidos seis insumos industriais básicos: a) triglicerídeos; b) ésteres de ácidos graxos; c) epóxidos de óleo de soja (ESBO); d) epóxidos de ésteres de ácidos graxos (SEM); e) glicerina; f) aminoácidos. A partir do óleo de soja podem ser outros insumos como resinas, látex modificado, diluentes reativos, aditivos funcionais, diácidos, dióis e dispersões de poliuretano.

 

A preferência crescente dos consumidores por matérias-primas renováveis e sustentáveis, é um ponto favorável à soja, cujo custo tem sido inferior aos insumos de petróleo. Além disso, a soja apresenta emissões de gases de efeito estufa (GEE) inferiores ao petróleo, o que atrai empresas que tenham metas de sustentabilidade por cumprir. A fixação biológica de nitrogênio da atmosfera dispensa fertilizantes nitrogenados, cuja produção é altamente emissora de GEE. Com o incremento da produtividade, cada tonelada de soja produzida emite menos GEE, como demonstram os desafios de máxima produtividade do CESB .

 

Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro fundador do Comitê Estratégico Soja Brasil e do Conselho Científico Agro Sustentável

 

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